Sinopse do enredo - Porto da Pedra

O Carnaval Carioca (03/06/2025)   

“Das Mais Antigas da Vida, o Doce e Amargo Beijo da Noite”

 

“Boa noite, pra quem vem de longe
Boa noite, pra quem tá chegando
Boa noite, pra moça bonita
É pra ela que eu tô cantando
7 rosas vermelhas, lá na encruzilhada
É lá que essa moça mora, é lá que ela dá risada…”

Mulher. Palavra que emana poder. Meu corpo é a encruzilhada que veste o preto mistério sobre a luz das estrelas. Meus traços são faíscas incandescentes de desejos. Rubro ardor de loucura. Nos meus lábios, a vermelha tentação que beija a alma dos que ousam provar o deleite destas carícias.
Mulher. Atiço a poeira da magia. O ferro em brasa. O fervor do dendê. O perfume que exala pelas ruas. Boa noite para elas! Donas da magia que comandam essa avenida. Dama das rosas. Ponteira de aço firme nessa esquina da resistência feminina.

“À minha Senhora hei de cantar
Poesias escritas para além-mar.
Dourada, de doce sorriso
Além da compreensão humana, o divino sentido…”

Sagrado? Ora, tenho dons celestiais! A beleza que desnuda os pudores humanos. Dancei com sátiros nos bosques, me banhei no cálice dos prazeres divinos dos rituais, sou face feminina dos sonhos deíficos que acalentam os corações humanos que buscavam carinho.
Profano? Ora, visto-me de realidade! Os seios banhados com champanhe são as taças do desejo que cortejam as vontades da realeza. E tempos depois, por estas terras de onde não haveria temores, minha estrela se apagou e renegada de minha pátria, polaca perdição do cais. Estava aqui, no manguezal da labuta meretrícia, degradada entre o luxo e a pobreza. O bem e o mal de tantos!

“…E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos…”

Sou dona dos amores não correspondidos e do amargo da solidão. Forjada para lida das mãos que tocam meu corpo. Meu colo é teu carinho, afago da perdição das almas. Vivo a vida entre a lâmina fria da realidade e o perfume das flores que despetalam promessas neste velho cabaret.

Arreda, homem! Sou a feiticeira sedutora de Araxá que a sociedade conservadora não pode calar. Sou as asas da imaginação de um escritor, um anjo entre a pureza e a perdição. Sou a voz que não se cala, a baiana fervorosa, sou o suspiro que ecoa nos corredores do velho cortiço. Sou mulher- dama, o machado forte, os lábios da doçura do cacau.

Sou eu! Encontrei proteção no fio da navalha do desordeiro herdeiro das sete coroas que me acolheu. Satã das bonecas e da malandragem que travestiu o “balacochê” na Lapa boemia. Sou eu, sim! Maria que homem nenhum tomba! Do agreste fui expulsa e enfrentei o julgamento da perpétua moralidade. Sou um furacão de liberdade e rebeldia, o amor proibido, riscado por Deus e que ninguém rabisca.

“Baby!
Dê-me seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que eu quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você…”

Mulher da vida, é preciso falar! É preciso que vocês me ouçam. Nós somos mais que corpos a serem tocados. Sou mulher do lar, por que não? Sou feita de sonhos e esperanças que um dia partiram para o mundo, e nas voltas desse mundo, algumas não retornaram.

Entenda que sou profissional! Não sou objeto, sou cidadã com meus direitos e deveres. Eu luto pelo que você discrimina. Meu corpo não é objeto de exploração, abuso e violência. Minha voz não é do medo que cala, é da luta que persiste, e nem mesmo abominada, desiste!

Sou chique! Desatei os nós do preconceito costurando a verdade de tantas que ditaram elegância no cenário da moda. Vidas em retalhos que vestiram arte. Estou aqui! Por mais que esteja à margem da história, não irão mais nos invisibilizar, eu sou a íris multicolorida de igualdade e liberdade.

A ciência é parceira na prevenção e o cuidado. Minha proteção é a sua satisfação! Conecto suas fantasias aos meus segredos mais delirantes, te enlouqueço, você me deseja, eu obedeço. A tecnologia nos aproxima, o mundo e o prazer ao toque de uma tela.

Sou fascinante mariposa noturna. Só voo à noite, pois dela sou de todos os tempos, rainha! A luz da lua me guia por esses caminhos da vida. Quenga, rameira, meretriz, messalina, acompanhante. O amargo e o doce. Gabriela, Lourdes, Cleide, Rachel, Vivi, Indianarae, Monique e todas as outras que são da luta. E antes que finde esta madrugada, sairei voando por aí…

Sou a liberdade imoral rechaçada pela hipocrisia,
O proibido que habita os seus sonhos,
O pesadelo que assombra sua mente,
O desvario, a luxúria e a provocação.
Sou um corpo na multidão observada,
Mulher que você julga a conduta,
E tentas vezes put…ah, puta mesmo!
Sou eu sua fantasia liberta nesse carnaval,
De garras afiadas num delírio sensual,
O beijo da noite que te enlouquece,
Nos meus braços você adormece,
Mas te deixo quando dia amanhece.
Você promete me tirar desse lugar,
Sou a flor do sereno,
Sou o veneno e a cura,
A fatal que não se esquece.
Créditos
Carnavalesco: Mauro Quintaes
Enredista: Diego Araújo



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