Unidos de Bangu prepara enredo afro
O Carnaval Carioca (26/04/2019)   
                                                                           

"Memórias de um Griô: a diáspora africana numa idade nada moderna e muito menos contemporânea"´é o enredo da Unidos de Bangu para 2020. O desfile será desenvolvido pelos carnavalescos Guilherme Diniz e Rodrigo Marques.

De volta à escola por onde foram campeões em 2017, na Série B, eles farão o reencontro entre a agremiação e a temática afro, partindo da gênesis do continente até à colonização europeia sob o olhar de um nativo.

- Vamos contar a história da África desde o seu surgimento a partir da visão de seu primeiro habitante, neste caso um griô, que é o personagem mais ancestral de todos. Ele é a pessoa que viu tudo acontecer no continente e um contador de histórias. O ponto de mudança dessa história é a chegada do europeu. E é aí que começa essa diáspora, já que os nativos não tinham saída: eram colonizados ou escravizados. A partir daí, a África nunca mais foi a mesma - explica Rodrigo Marques.

- Toda essa história é narrada de maneira cronológica por este griô. Desde o surgimento com a migração dos povos de onde é a África, até a chegada dos europeus, que mudam a história e criam os males que perduram até hoje, como a desigualdade e o preconceito - completa Guilherme Diniz.

Em 2019, a vermelha e branca ficou na oitava colocação da Série A, com o enredo "Do ventre da terra, raízes para o mundo".

Leia sinopse:

"Do Ventre da Terra, Raízes para o Mundo."



Autores: Alex Oliveira, Edson Pereira, Clark Mangabeira e Victor Marques

Abrem-se os caminhos para a mais antiga da Zona Oeste,
nos quais, passo ante passo, a comunidade enaltece,
com a força, o suor e o sangue vermelho do Pavilhão,
as histórias de vitórias e devoção!

E nesse caminhar engajado e emocionado,
grita, Bangu, bem alto!
Ferve a Sapucaí hoje e sempre!
Entra forte na avenida com os Deuses à frente,
pois grandes raízes têm as mais fortes sementes!
O tapete da vitória, assim, se estende, e
com lágrimas de alegria,
louros e glória a toda tua gente!

Tapete estendido para a estória então,
Vêm os deuses coroar dando, à grande raiz, a criação!
Inti, o Deus Sol que tudo abrange, a ela concedeu energia!
Pacha Mama, com as mãos dedicadas à semeação,
ofereceu, à raiz, a força da vida:
nutriu-lhe de nutrição,
predestinou-a à satisfação.

Do alto da Cordilheira ao sul do mundo,
a qual tocava os céus,
desciam as raízes que, incessantes, alimentariam nobres reis e o povaréu!
Era a predestinação:
matar a fome nos quatro cantos de forma simples,
sem coroação,
mas carregado, o tubérculo, de força, sublime realização.

Sorrindo-lhe a bem-aventurança divina,
atravessou o mar com espanhóis para aportar na Europa.
Esparramou-se nos solos da terra de lá,
ofertando-se a raiz dos Incas ao antigo continente,
requinte de bondade andina com os esfomeados, coitados!
Boa fartura no lugar das revezes,
e a beleza das flores do tubérculo na lapela dos reis que a olhavam de soslaio.

Pois, sem lugar na Bíblia, primeiro causou dúvida e espanto;
o medo, a fome, contudo, suplantando!
Na dor das barrigas vazias, venceu, o tubérculo, o cansaço:



reis ordenaram sua plantação,
papas comiam-no, pela saúde, em oração,
e, enfim, a aceitação:
eis a raiz de um Novo em um Velho Mundo,
os pilares de toda refeição,
a base alimentar!
O mundo sonhando sem a dor da fome!
A raiz, potente, fazendo seu nome.

Sem interromper as teias do destino,
surgiram novos caminhos!
À época da vinda da Família Real,
aportou, a raiz, nesta terra indígena postulada por Cabral.
E, aqui, os deuses do alto da Cordilheira reviram seus irmãos da Floresta:
Sumé, sábio, recebeu a raiz parecida com a já conhecida por matar a fome dos seus,
Jetica, mais doce do que a nova trazida,
e a fartura das duas raízes, comungadas:
roças firmes para ambas em juntas moradas.

Velho e Novo mundos (re)unidos em plantação!
Pelas bandas de cá, as raízes estiveram e chegaram com a imigração.
O nobre feito de matar fome de um mundo inteiro dada
às mãos do trabalhador brasileiro,
aos seus pés rachados na terra dura sem esmero,
às enxadas firmes para manter a vida da raiz, para nós e por ela!
A força que vem do tubérculo usado para plantar ele próprio,
batendo forte, pelo sustento, o rijo ferro na mãe-terra!
Comam, pois, mundo inteiro!
Brasil, vocação para celeiro!

Finaliza, portanto, Bangu, teu canto
nesta festa animada,
saudando aquilo que, quando nasce, comem todos, e, dela, não sobra nada;
confraternizando com aquilo que, quando nasce, espalha rama pelo chão!
Eis, aqui hoje, querido pavilhão, a raiz que, convenhamos, precisa ser nomeada?
Pelo sim, pelo não,
está aí a homenagem:
um grande salve
à guerreira batata.

 

 

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